segunda-feira, 26 de abril de 2010

45 anos depois do primeiro crossover Marvel/DC



Todo mundo está careca de saber que o primeiro encontro entre Marvel e DC Comics ocorreu em 1976, com a edição tablóide que uniu Superman e Homem-Aranha na mesma história. Desde então, o leitor teve a oportunidade ver os X-Men se confraternizarem com os Novos Titãs, Galactus se encontrar com Darkseid, os Vingadores saírem no tapa com os Justiceiros etc., etc., etc. Pois é, não faltaram crossovers – aquela palavrinha mágica que usamos ao nos referirmos a esses deliciosos caça-níqueis das editoras norte-americanas.

Mas houve uma época em que isso não era lugar-comum, e os autores tinham de sambar para atender, criativamente, o anseio dos leitores, que queriam, porque queriam, ver seus heróis favoritos atuando juntos. Questões contratuais e de direitos autorais não permitiam essas histórias – pelo menos até Stan Lee e Carmine Infantino (então, Publisher da DC) se sentarem pra firmar o encontro do Cabeça-de-Teia com o Azulão –, então os roteiristas se
valiam de subterfúgios meio que “pilantras” pra satisfazer a rapaziada.

Em publicações satíricas como Not Brand Echh (Marvel) e Inferior Five (DC), era normal ver reflexos cômicos dos superseres de ambas as companhias – uma reminiscência pra lá de inspirada no embate Superduperman vs. Captain Marbles, do genial Wally Wood pra MAD 4, lá atrás, na pré-história dos Comics.

Um pouquinho mais sério, por exemplo, o fanboy Roy Thomas criou um grupo de vilões, o Esquadrão Sinistro, cujos membros eram contrapartes escarradas dos carinhas da Liga da Justiça, pra combater os Vingadores, enquanto Jack Kirby transformou
Jimmy Olsen, numa versão verde e sardenta do Incrível Hulk pra encher de bolacha a cara de Clark Kent. E quando Neal Adams e outros malucos começaram a desenhar os heróis de uma editora no gibi da outra – geralmente, isso acontecia em histórias que se passavam durante a parada do Halloween em Rutland, organizadas por Tom Fagan – a idéia geral era algo como “Afinal, o que vocês estão esperando pra fazer um crossover de verdade?”
Bem, enquanto eles esperavam Stan e Carmine (hunf... na época, esses dois viviam se encontrando num botequim muito mal freqüentado por roteiristas e desenhistas de HQs só pra saber onde é que seria a farra do próximo final de semana), aqui no Brasil um encontro pra lá de inusitado entre um herói da Marvel e outro da DC já havia acontecido... em 1964?!

“Oh, mas como?!” está tu indagando, não é? Bem, isso aconteceu precisamente em 1964, nas páginas do Almanaque do Globo Juvenil da RGE, editora do mega-empresário (já falecido) Roberto Marinho, e que hoje atende por Editora Globo. Tratou-se do encontro entre o Tocha Humana original dos anos 1930 (criado por Carl Burgos), com o Capitão “Shazam!” Marvel. Na trama, o herói flamejante era dado como desaparecido há décadas, prisioneiro que estava de um vilão inescrupuloso, até ser resgatado pelo formidável Big Red Cheese. Juntos, partem para a ação, enfrentando o maquiavélico Cobra – um inimigo em comum criado para a trama.

Em 18 páginas de história consta apenas a assinatura do artista Rodrigues Zelis. Um roteiro pra lá de amarradinho, numa história até que bem desenhada para os padrões da época. Diversão garantida, que fez muito leitor brasileiro exultar de alegria.

Vale alguns esclarecimentos aqui: na ocasião, a editora carioca ainda publicava as histórias da Família Shazam. Mas, aparentemente desencanada com o fato de que nos Estados Unidos a Fawcett, detentora dos direitos autorais de Capitão Marvel havia cessado a produção de novas histórias de Billy Batson e sua trupe, a RGE continuou a editar gibis desses personagens até 1967. Em 1973, a DC Comics adquiriria os direitos deles todos e suas novas aventuras seriam então, reproduzidas no Brasil pela EBAL.

Embora irregular do ponto de vista legal, esse encontro dos dois personagens chamou a atenção do fandom americano, até recebendo comentários elogiosos na excelentíssima Alter Ego de Roy Thomas, em artigo assinado por meu chapa, o grande pesquisador John G. Pierce – uma das maiores autoridades mundiais em se tratando da Família Shazam.

Após quase cinco décadas de seu lançamento original, será muito difícil encontrar um exemplar desse histórico almanaque em algum sebo encardido, dando sopa por aí. É pouco provável também que tanto DC quanto Marvel decidam “legalizar” a história, para então, encaixa-la em algum encadernado qualquer. Fruto do momento oportuno, de uma época bem menos complicada – quando o mundo era maior e mais divertido – o encontro entre Capitão Marvel e o Tocha original é uma coisa que não pode ser repetida, apenas entendida como um fato que transcende o histórico para alcançar o patamar de mito.

Fonte:
Guedes Manifesto

Um comentário:

  1. Ótimo artigo, engraçado ver que hérois tão clássico hoje estão meio que abandonados por suas editoras, eu acho que o Tocha Humana original tem muito potencial, cada vez que ele aparece nas histórias do Capitão América eu tenho a esperança de que ele volte a ter destaque e eu adorava o Capitão Marvel quando ele fez parte da Sociedade da Justiça, pena que suas séries nunca implaquem, quem sabe um dia um bom escritor não o salva? Parabéns pelo post

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